sábado, 18 de junho de 2011

Primeiro EU

O que é ser íntimo de alguém? Temos pessoas com quem convivemos todo o tempo, colegas de trabalho ou mesmo familiares, que pouco sabem de nossas angústias, medos, desejos e alegrias.Intimidade é diferente de convivência, conviver não é sinônimo de ser íntimo , apesar de muitos acreditarem nisso. Também é diferente de mistura, de simbiose. Não é possível ser íntimo de alguém se não houver individualidade. Primeiro ser, para depois compartilhar. Não se compartilha o que não se tem.
Nascemos do aconchego do útero materno, da sensação de segurança que ele nos proporciona. Naturalmente desejamos nos relacionar, somos seres sociais, nascemos carentes de afeto, atenção e aceitação. O ser humano tem uma demanda de amor, busca amar e ser amado todo o tempo. Nascemos e imediatamente precisamos de afeto para nosso processo de crescimento emocional, da mesma forma que precisamos de cuidados para nos desenvolvermos fisicamente. Recebemos da figura materna o amor incondicional, aquele tão buscado em nossa vida: ser amado pelo que somos, o pacote completo.E o que isso significa? Significa que buscamos em nossas relações, na maioria das vezes de forma inconsciente, essa sensação primária de plenitude e segurança, refletida em maior grau nas relações de intimidade.

Intimidade é a possibilidade de relação mais próxima que implica em confiança. Confiar significa acreditar que seremos aceitos como somos, mas, não apenas pelo outro; para isso é preciso confiarmos em nós mesmos, em nossa capacidade de sermos genuínos, percebendo o que temos para oferecer numa relação tranqüila e prazerosa com o mundo. Contudo, é necessário o sentimento de esperança e fé no bom que existe no humano. Confiança se adquire através das relações e pela forma de relação que se estabelece, é um sentimento delicado e dinâmico, ela é como planta: se não regar morre. Intimidade também implica em entrega. É uma via de mão dupla, ser íntimo é ser cúmplice, é estar ao lado do outro e não misturado ao outro. Trata-se de uma proposta de relação mais profunda, que implica em envolver-se, doar-se e saber receber o outro, aceitar e aceitar-se, é troca plena.

Você pode ser íntimo de um amigo com quem conversa sobre varias coisas e não ser íntimo da pessoa com quem você dorme. Os medos, crenças e as inseguranças são os grandes responsáveis pelas dificuldades de envolvimento. Algumas pessoas confundem intimidade com submissão, alienação e mistura, outras entendem como fraqueza, falta de individualidade ou demonstração de carência...O medo e a competição, fazem com que as pessoas se relacionem apenas com parte do outro - àquela que deseja superar – o que impede que a relação seja verdadeira...

Quando nos relacionamos percebemos que não estamos sós, não somos os únicos a ter dificuldades e sofrimentos; temos a capacidade de aprender com nossos erros e acertos e com os erros e acertos dos outros. Por isso que a relação de intimidade deve ser cultivada, escolhida a dedo. Faz parte de nosso desenvolvimento emocional aprender a escolher entre as pessoas de nosso convívio, aquelas que merecem nossa confiança, ou seja trata-se de uma questão de auto proteção, da capacidade de aprender a cuidar de si mesmo.

Ser íntimo significa compartilhar tudo? Dizer tudo, o que pensa e sente? até os pensamentos? Se pensamentos fossem para ser ouvidos eles aconteceriam em alto e bom som! Você deve estar pensando, mas então eu não deveria compartilhar minhas idéias, sentimentos e pensamentos? É claro que sim!, mas escolhendo com quem e o que compartilhar, nem sempre o outro “agüenta” ou está preparado para o que estamos pensando ou desejando.Segundo a visão de desenvolvimento humano proposto por J.L. Moreno, criador do Psicodrama, a Matriz de Identidade emocional normal se estabelece a partir das relações que o indivíduo faz. Através de nossas vivências caminhamos de um momento de total Indiferenciação com o mundo (nascimento) para uma relação télica e plena onde seja possível trocar de lugar com o outro entendendo suas motivações pelos seus olhos (maturidade emocional), sem com isso, desrespeitar nossas crenças, valores, e individualidade. Moreno chamou o ápice dessa fase de Encontro, onde podemos “novamente”- lembrando nosso nascimento - nos misturar com o outro, sem nos perdermos – porque agora existe um eu delimitado - e sair revitalizados, enriquecidos. Seria o ponto máximo de diferenciação de identidade.


Cada pessoa tem suas motivações, resultado de sua história de vida e sua educação, somada às suas características inatas. A saúde emocional e mental de cada indivíduo é que determina como cada um vai suprir essas necessidades. Esta saúde interna se desenvolve como resultado de um processo de maturação do indivíduo, e obedece uma seqüência de desenvolvimento humano, segundo a teoria do desenvolvimento Moreniana.

Para nos envolvermos em qualquer tipo de relação, seja uma relação de amizade, profissional, amorosa ou simplesmente social, primeiro temos que conhecer nossa individualidade e o que significa um mínimo de noção de nossos desejos, características, medos, dificuldades e gostos; enfim, um pouco de nossa singularidade. Falei em mínimo, porque trata-se de uma busca de AUTOCONHECIMENTO que acontece durante nossa vida. Não acredito que alguém possa esgotar esse processo, porque somos seres dinâmicos e estamos aprendendo e consequentemente em transformação todo o tempo.A maturidade enriquece e modifica.

Portanto para que você possa construir uma relação de intimidade com alguém deve estar atento a esse processo de busca de si mesmo, à sua capacidade para amar e principalmente, para sentir-se amado.

Bittú Sirley Santos M. - As relações afetivas e a intimidade.

Através da óptica do psicodrama criado por J. Levi Moreno

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